Me entender é um privilégio. Tem que ser pelo coração, tem
que ser com a minha permissão. Não me esforço pra fazer sentido, gosto da
dúvida, de nem eu mesma saber meu próximo passo. O que eu quero agora pode
durar algumas horas, alguns anos, quem sabe? Só me explico pra mim mesma, e,
ainda assim, não me entendo. Quem dirá as outras pessoas, que não acompanham
nem o início do meus pensamentos insanos, intensos,
inteiros. Quem sou eu? O que eu quero da vida? O que eu tanto espero das
pessoas? E o que eu desespero? Queria poder responder pelo menos uma pergunta,
facilitar minha vida, estar à frente de mim. Demoro muito tempo pra tomar uma
decisão, mas aí eu posso afirmar: decisão tomada não tem volta. Talvez minha
certeza seja não ter certeza, minha resposta seja não ter resposta. Talvez meu
mistério, que eu sempre quis ter, seja exatamente esse: ser um ponto de
interrogação junto a uma exclamação. Falo sobre mim, meus amores e desamores
com desconhecidos, sem tabus, sem problemas. Conto meus sonhos, minhas
histórias, minhas ideologias. Aí me lembro que não tô sendo nada misteriosa,
mas já foi, sou mais rápida que isso. Só que, veja bem, mistério é muito
relativo, muito pessoal. E, mesmo contando minha vida pra uma amiga ou um cara
no bar, eu sou o mistério de ser hoje e só. Amanhã, já sou outra e nem eu me
reconheço.