Eu sempre tentei entender sua magia. Sei lá, queria saber o que me prende dessa forma
absurda numa pessoa completamente oposta das minhas idealizações. E talvez seja isso, né? Você chegou inofensivo e, quando dei por mim, minha
vida já tava de cabeça pra baixo. Quando eu vi, já tava assim, você deitado no sofá, tirando o controle da minha mão, da
minha vida. Abriu minhas gavetas,
revirou minhas coisas, pegou meu caderno de regras e saiu riscando tudo. Que abuso. Quem você pensa que é?Quando fica desconfortável, vai mudando de posição, todo espaçoso, pegando mais uma almofada. Nem me pede. A realidade é que você tá
acostumado com a casa, sabe andar de olhos fechados, conhece cada lugar de
tudo. E eu tô acostumada com você por aqui, visitando com esse ar de dono, sabendo mexer nas coisas sem
bagunçar. Gosto da sua companhia
porque, apesar dos pesares, ela é intensa e isso me fascina. Sentir o peso do
seu corpo e ter a certeza que ali comigo tem mais que um corpo e só. Sempre te
deixo entrar porque, mesmo quando você tá ausente, você tá lá, de alguma forma.
E porque te expulsar exige mais que uma simples mudança da fechadura, é preciso
mudar cada centímetro de tudo,cada pedaço de você infiltrado. E eu prefiro assim, o sofá com seu cheiro, você espalhado, o amor fantasiado de liberdade.